E se a felicidade fosse uma habilidade?

As Habilidades para a Felicidade são estudadas na psicologia positiva e neurociência.

A boa notícia é que, segundo a ciência, a Felicidade é sim uma habilidade e, como tal, pode ser desenvolvida. Habilidade, dentro do contexto das competências humanas, é algo que pode ser adquirido – portanto não nascemos com ela – e que demanda intenção sistemática e esforço continuado. Um exemplo didático seria dirigir, que inicialmente exige muita atenção, esforço e treino, porém, com o tempo, torna-se quase automático.

As Habilidades para a Felicidade (Happiness Skills) já são estudadas há alguns anos, em especial dentro da psicologia positiva e neurociência. O neurocientista Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin (EUA), é a principal referência no assunto. Foi ele quem pesquisou e comprovou que algumas habilidades podem ser desenvolvidas para o aumento da percepção e reserva de bem-estar (ou felicidade).

No mercado de trabalho, em especial, fala-se muito em Hard Skills (habilidades técnicas) e Soft Skills (habilidades socioemocionais). As Habilidades para a Felicidade são uma terceira categoria, pois, apesar de também serem habilidades socioemocionais, elas comprovadamente elevam o bem-estar. Existem muitas habilidades com impacto comprovado na felicidade, mas algumas delas possuem maior número de pesquisas, tais como resiliência, “savouring”, atenção plena, generosidade, compaixão, autocontrole e gratidão.

Davidson pesquisou e validou quatro delas, das quais vou destacar nesse artigo:

  • Atenção plena – como habilidade, a atenção plena é cultivar qualidades básicas de consciência para sustentar a atenção, a presença. É uma habilidade que tem origem na meditação budista e atualmente utiliza-se muito o Mindfulness para praticá-la, que é um protocolo/técnica criado sem vínculos religiosos para o desenvolvimento da atenção plena;
  • “Savouring” – o termo é usado em inglês mesmo, mas podemos traduzir como apreciar ou degustar (não no sentido de comida). Savouring significa a capacidade de apreciar emoções positivas, ver o positivo nas situações no momento em que elas estão acontecendo na vida. Afinal, na maior parte das vezes vemos as coisas boas de uma situação apenas depois que ela acontece, não é mesmo?
  • Resiliência – diferente do que muita gente pensa, resiliência não é a pessoa voltar ao estado inicial depois de uma situação negativa, isso só funciona na engenharia. Os seres humanos são bem mais complexos e a mudança é nossa única constante. Resiliência é a capacidade de se recuperar de uma adversidade, de florescer apesar das dificuldades. Quanto mais rápido nos recuperamos, maior é a resiliência.
  • Generosidade – Segundo Davidson, essa é a habilidade mais potente para geração de bem-estar. Ele define generosidade como a virtude de dar coisas boas aos outros de maneira livre e abundante.

E talvez agora você se pergunte: como treinar todas essas habilidades?

A Psicologia Positiva possui treinamentos ou intervenções testadas em laboratório, além de testes que podem ser aplicados antes e depois de programas para medir resultados. A maior parte dessas intervenções tem como base técnicas de meditação, outras indicam fazer determinadas ações de forma sistemática, como diário de gratidão ou atos bondosos com estranhos. Na sua essência, as intervenções servem para despertar emoções, cognições e comportamentos positivos.

Como seria difícil em um único artigo falar de intervenções para cada uma das quatro habilidades aqui citadas, vou deixar a dica de uma intervenção simples e prática de Atenção Plena, visto que o exercício da capacidade de presença contribui para praticamente todas as habilidades. Alguns treinamentos contemplativos mentais, por exemplo, podem mudar circuitos no cérebro para nos tornarmos mais resilientes e generosos.


DICA DE PRÁTICA: Pausa Transicional

Técnica rápida criada pela Dra. Tamara Russell, neurocientista, psicóloga e diretora do Mindfulness Center of Excellence, em Londres. Esta é uma prática que foi pensada para ambientes de trabalho e pode ser feita por iniciantes. O objetivo é sair de um estado emocional para outro e preparar a mente para uma próxima tarefa. Deve ser feita no tempo de 3 a 5 minutos entre uma atividade/reunião e outra.

Vamos aos passos:

1. Sente-se em sua cadeira com a coluna ereta, mão nos joelhos e pés firmes no chão. Também pode ser na sua posição habitual de meditação, caso já tenha uma. O mais importante é a coluna ereta, pois queremos presença. Opcional: coloque uma música suave de fundo;
2. Perceba como a atividade que acabou de participar (uma reunião, por exemplo) lhe afetou as emoções, o corpo e a mente;
3. Como são os afetos que sente: positivos? Negativos? Neutros? Acolha sem julgamento;
4. Como está sua respiração: ofegante? Tranquila? Como está seu batimento cardíaco? Observe sem julgamento;
5. Que pensamentos surgem naturalmente em sua mente? Perceba sem julgamento;
6. Estabeleça uma intenção para a próxima atividade que vai realizar;
7. Finalize com três respirações longas, lentas e profundas.


DICA DE VÍDEO

Deixo ainda uma dica de vídeo, caso queira ver o próprio Richard Davidson explicando as quatro habilidades (está em inglês, mas você pode acionar as legendas automáticas do YouTube):

No próximo texto seguiremos essa trilha…

Até mais!
Grazi Gotardo


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