Eu ainda me espanto com a medição de índices de felicidade e considero algo bem ousado para nossa humanidade e modelos de sociedade. Mas grandes instituições vêm fazendo isso há mais de uma década, sempre com foco em medir e atuar nas condições para a felicidade. Desde que a ciência começou a investir em entender essa busca e capacidade subjetiva dos ser humano, muita coisa linda vem surgindo sobre nossa essência e potencialidades para encontrar sentido e significado na vida.
Por isso, convido a olhar para os dados do Relatório Mundial da Felicidade, uma pesquisa publicada anualmente, chancelada pela ONU, sobre o estado da felicidade no planeta. Ela é editada pelo economista Jeffrey Sachs, junto a outros professores acadêmicos, desde 2012, e começou utilizando dados de pesquisa da Gallup. Importante lembrar que tem muita coisa relevante nesse relatório, que chegou à 10º edição em 2022 e foi lançado em abril. Aqui vou trazer apenas alguns recortes.
Para começar, a inspiração para a pesquisa veio do reconhecimento do sistema Felicidade Interna Bruta – FIB, iniciativa pioneira do Butão, apontada como um novo paradigma socioeconômico em sessão da ONU, em 2012. O Butão, um país pobre nos himalaias, percebeu que medir o PIB (produto interno bruto) já não refletia a condição das pessoas e de seu país. Mesmo em países considerados ricos economicamente, como os Estados Unidos, observou-se que apesar do PIB crescente, os índices de bem-estar subjetivo despencavam. Assim como aumentavam os índices de depressão e suicídio. O FIB ainda será tema por aqui também. Por hora, vamos ao relatório e como estamos em 2022.
Considero importante saber os critérios utilizados pela pesquisa, que incluem o PIB/per capita, mas somam-se a ele: expectativa de vida no nascimento; existência de uma rede de apoio; percepção de corrupção; liberdade para fazer escolhas; generosidade, além da avaliação subjetiva da felicidade. Essas são as métricas atuais que dão o cenário para o relatório. Ao completar dez anos, a publicação traz algumas constatações:
- Satisfação com a vida caiu a partir de 2011;
- Desigualdade em bem-estar aumentou a partir de 2011;
- Aumentou também a preocupação e a tristeza das pessoas;
- Aumento no nível de stress e manutenção da sensação de raiva.
Às vezes vejo dados como esses e penso que bastaria olhar ao redor, nas nossas próprias vidas, e das pessoas mais próximas, para tirar as mesmas conclusões. Se a gente fizer um olhar um pouco mais amplo para questões sociais, econômicas e políticas do país, certamente esses itens acima se confirmariam também. E precisamos lembrar que eles se refletem em todo nosso modo de viver e trabalhar.
Por outro lado, o interesse pelos temas Felicidade e Bem-estar aumentou acentuadamente nos últimos dez anos. E isso foi medido através da busca por essas palavras em livros publicados em todo mundo. A pesquisa acadêmica sobre Felicidade e Bem-estar explodiu nesse período e a medição de aspectos antes considerados muito subjetivos só aumenta: gratidão, altruísmo, resiliência, generosidade, todos são temas de pesquisas nas maiores universidades do mundo. Já obras e estudos com os termos renda e PIB, por exemplo, caíram.
Mas quem são os países mais felizes, segundo a pesquisa? Do total de 146 nações do relatório, em 2022, os primeiros lugares são:
- Finlândia
- Dinamarca
- Islândia
- Suíça
- Holanda
- Luxemburgo
- Suécia
- Noruega
- Israel
- Nova Zelândia
O Brasil aparece em 38ª posição e está numa trajetória de se afastar a cada ano das primeiras posições, em 2015 era o 16º. Os últimos são Zimbábue, Líbano e Afeganistão. Para entender melhor o bom posicionamento dos países nórdicos, Sachs destacou fatores que refletem o peso de aspectos sociais dentro da felicidade como: segurança e bem-estar social; confiança nas pessoas e instituições; bom funcionamento e instituições democráticas e eleição de partidos que preservam instituições.
E para encerrar, existe outro ponto em comum aos países nórdicos e que faz parte dos critérios da pesquisa para o relatório mundial da felicidade, citado lá em cima: a liberdade para fazer escolhas, permitida pela alta proteção social que a população desses países possui. Essa liberdade não é aquela oriunda da força interna de cada um, da essência ou Eu interior, mas a liberdade de fazer escolhas sem perder condições mínimas de sobrevivência e dignidade. Esse aspecto é importante para que se possa atuar nas condições para a felicidade.
No próximo texto seguiremos essa trilha…
Até mais!
Grazi Gotardo
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Uma resposta
Ótima matéria Grazi. É incrível como na vida temos esta balança visível, entre a renda bruta e a felicidade. Países como os EUA despencam na tristeza ao lado do enriquecimento materialista, outros, aprenderam a balancear o $$ e a felicidade, pois precisamos de ambas para viver. Muitas vezes o caminho do meio parece estar nebuloso, mas ele está lá.
Adorei! ♥