O tema da Felicidade é discutido pela filosofia e algumas religiões orientais há milênios. Mas só nas últimas décadas a ciência ocidental começou a pesquisar e tem nos trazido respostas incríveis na psicologia positiva e nas neurociências. Neste mês de novembro estive no V Congresso da Felicidade, em Curitiba (PR), evento que reuniu palestrantes com conhecimentos da ciência, religião, espiritualidade, ancestralidade, filosofia, entre outros. Todos compartilhando visões de mundo, realidades, pesquisas e histórias pessoais na mesma intenção de mostrar ou desvendar o que faz um ser humano feliz.
Para quem não conhece, talvez ache que é um evento para “o povo que abraça árvore”, na verdade, também é, e eu sou uma delas inclusive. Mas felicidade (assim como abraçar árvores) é coisa séria, é um campo novo na ciência, multidisciplinar, estudado e pesquisado pela psicologia positiva, neurociência, filosofia e economia.
E como boa virginiana pé no chão e um tanto “São Tomé”, a mim não basta abraçar as árvores, quero saber a fundo o efeito disso no meu corpo, cérebro e as emoções de valência positiva que isso pode me proporcionar.
Para compartilhar a experiencia, fiz o meu resuminho de aprendizados em 5 tópicos:
1 – Felicidade é caminho de autoconhecimento
“Para ser feliz é preciso esforço e autotransformação”, disse o Rabino Joseph, em palestra sobre a sabedoria da Kabbalah. Já a professora Carla Furtado, com base na psicologia positiva, questionou e respondeu: “Como fomentar a felicidade? Para a ciência é atuando deliberadamente nas emoções.”.
Interessante ver religião e ciência alinhadas de que é preciso uma decisão consciente e consistente que começa no eu. Aqui, no entanto, deixo a importante ressalva de que essas afirmativas são válidas apenas quando falamos de pessoas que já possuem suas necessidades básicas de alimento, segurança e saúde atendidas.
2 – A felicidade é relacional
“Eu sou porque nós somos”, é um ensinamento da filosofia Ubuntu, na cosmovisão africana, trazida por Noéle Gomes. Aqui vemos a visão da unicidade, do Todo, falando que somos parte de tudo que nos cerca.
Como diz Juliano Pozati, é como se o peixe perguntasse onde está o oceano, estando nele imerso.
E, para despertar esta unicidade, Noéle provocou todos a perguntarem-se: O que só eu faço do jeito que eu faço? Para ela, e de acordo com essa filosofia, é assim que não nos perdemos mais em comparações. Isso me lembrou muito o trabalho que fazemos aqui no Círculo, com as mentorias de Talentos Naturais e Pontos Fortes. Conhecer e desenvolver talentos que já estão naturalmente em nós, nos leva a pontos fortes únicos e a comparação realmente vai perdendo sentido.
3 – A felicidade do eterno aprendiz
Já percebeu o quanto estamos reaprendendo quase tudo o tempo todo? O que é melhor comer para a saúde, criação dos filhos até a forma de trabalhar e se relacionar (em especial após 2020).
Estudioso é meu talento natural número 4, no Clifton Strengths, da Gallup, e não foi nenhuma surpresa quando descobri, pois a condição de aprendiz sempre me encantou. Mas, ainda assim, não é fácil acompanhar as mudanças no mundo, em especial as tecnológicas. Como previu há muitos anos Peter Drucker (1909-2005): “A tarefa mais urgente é ensinar a aprender”.
E foi sobre aprender com a vida que falou a professora Lúcia Helena Galvão ao percorrer a ideia de felicidade de diferentes correntes filosóficas. “A vida é pedagógica, felicidade é ânimo de aprender”, afirmou. Com seu olhar prático para a aplicação da filosofia, lembrou da visão estóica de que precisamos dar o melhor segundo o que a vida nos permite no momento, e citou, entre muitos, Epicteto: “Felicidade é verbo. Ela está em você segundo cada ato de valor”.
4 – Felicidade nas organizações
Dentre as inúmeras iniciativas que já existem para que o estudo da felicidade alcance o ambiente de trabalho, entendo que a Segurança Psicológica traz uma base fundamental para romper alguns paradigmas do mundo corporativo. Uma delas é começar a ver as pessoas como seres humanos e não como “recursos” humanos.
Ambiente seguro é “aquele que você pode ser quem você é”, aponta Amy C. Edmondson, referência internacional no assunto, da Universidade de Harvard, e autora do livro “A organização sem medo”. A obra foi citada na palestra por Veruska Galvão, do Instituto Internacional em Segurança Psicológica.
Para mim, é nessa frase que começa toda a discussão, pois a nossa cultura de trabalho ainda carrega no inconsciente coletivo frases como: “ao chegar no trabalho deixe seus problemas lá fora” ou “vida pessoal e profissional não se misturam”. Precisamos falar sobre segurança psicológica e esse é um assunto que quero estudar mais.
5 – Felicidade é suficiência
Pesquisas já mostram que PIB alto não corresponde ao aumento de bem-estar da população, muito ao contrário. E já estamos pagando o preço do abuso dos recursos naturais do planeta, não precisa ser ambientalista, nem cientista para observar isso. A busca por novas formas de se relacionar e viver no meio que nos cerca é urgente e já existem propostas, novos modelos sócio econômicos, como é caso do Butão, com seu índice de Felicidade Interna Bruta (FIB), que já abordei em outro texto (acesse para saber mais).
O Congresso encerrou com a palestra de Thakur Powdyel, ex-ministro da educação do pequeno país budista dos Himalaias. O Butão ensina que o FIB é sobre olhar o que é melhor para o coletivo, entender o que é suficiente e sustentável, sobre respeitar culturas e como atuar nas condições para que cada um possa desenvolver sua autonomia como ser humano.
No próximo texto seguiremos essa trilha…
Até mais!
Grazi Gotardo
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Respostas de 3
Gratidão, Grazi! Por trazer um pouco do vasto conhecimento que você vem adquirindo sobre um assunto tão importante e relevante aos novos tempos e tempos futuros e que ainda não é tão acessível a todos. Foi muito especial sentir um pouquinho deste grande evento através do seu olhar!
Que ótima síntese, Grazi! A temática da felicidade no ambiente organizacional para mim sempre foi muito cara!
Me parece bem coerente falar em Segurança Psicólogica, especialmente em tempos de aumento inacreditável de assédio moral, pressão por resultados, equipes reduzidas, vínculos fragilizados e salários cada vez mais achatados.
Já saio desse artigo aqui com tarefinhas, hein? Pesquisar, estudar, sistematizar as ideias e mandar pro mundo!!
Obrigada, dear witch, estou seguindo sua trilha!!
Eu que agradeço Ana Roberta! Seguimos juntas 🙂 beijos