Quem nunca acordou intrigado, tentando desvendar o mistério por trás de um sonho bizarro ou fascinante? Desde tempos imemoriais, as pessoas se perguntam o que, afinal, acontece com a nossa mente enquanto dormimos. Não é de hoje que os povos ancestrais e religiões antigas já dedicavam bastante atenção a essas experiências oníricas. Mas o que acontece exatamente quando estamos inconscientes?
Imagine que, durante o dia, nossa mente tem um “gerente” – esse é o ego. Ele é quem organiza as coisas, toma decisões e nos mantém no controle da realidade. “Eu, Juliano, estou aqui. Sei que isso é uma caneca, que aquilo é um vaso, e agora é hora de fazer tal coisa.” Esse gerente está sempre trabalhando enquanto estamos acordados, cuidando para que a nossa consciência – essa parte da mente que tem ciência, ou seja, conhecimento do que acontece ao nosso redor – funcione direitinho.
Mas aí, chega a noite. É 22h30, você toma um chazinho de hortelã, escova os dentes, pega um livro… e “puf”, apaga. O ego, coitado, desmaiou. Deram um “shutdown” na consciência. Mas calma! A mente não para. É nesse momento que entra em cena o inconsciente.
Para Sigmund Freud, o inconsciente era tipo aquele depósito onde o ego joga tudo o que ele não deu conta de processar. Mas, para Carl Jung, o inconsciente é bem mais do que isso. Ele é uma verdadeira matriz de onde surgem arquétipos, esses modelos mentais ancestrais que moldam nossa vida e decisões. Sabe quando você sente uma vontade inexplicável de fazer algo, ou um desconforto que você não entende de onde vem? Pois é, provavelmente isso é uma dessas forças arquetípicas emergindo na sua psique.
A parte fascinante é que o inconsciente não fica restrito só à nossa mente. Ele parece também se conectar com a realidade ao nosso redor, o que Jung chamou de sincronicidade. Já teve a sensação de que estava pensando em algo e, de repente, algo muito parecido acontece no mundo externo? Como, por exemplo, pensar em uma mudança de vida e, de repente, uma borboleta cruza o seu caminho. Essa coincidência significativa entre o que acontece na sua mente e no mundo exterior é a sincronicidade.
“Ah, então toda vez que eu ver uma borboleta é um sinal do universo?” Calma lá! Não é bem assim. A sincronicidade não é superstição. Quando você transforma isso em algo mecânico, aí você entra no terreno da superstição – tipo aquele negócio de “gato preto cruzou o caminho, deu azar”. A sincronicidade, na verdade, tem um sentido muito mais profundo, e exige da gente um uso consciente da razão para interpretar o que está acontecendo.
O inconsciente fala com a gente o tempo todo, enviando sinais e conteúdos que vão moldando nossa vida. E parte do nosso processo de amadurecimento é aprender a integrar essas informações para guiar nossas decisões e ações. Jung chamou isso de processo de individuação – um caminho rumo à nossa totalidade, à nossa melhor versão.
Só que, no meio dessa jornada, nós, seres humanos modernos, estamos confortavelmente anestesiados. Entre uma selfie e outra, curtindo e deslizando a tela do celular, não prestamos atenção em nada além do que aparece nas nossas telinhas. Estamos distraídos e perdemos o foco naquilo que realmente importa. Eu digo que não é fácil ter uma escola de autoconhecimento como o Círculo nos dias de hoje. Parece que vivemos no modo “piloto automático”, deixando nosso ego, bem acomodado, nos guiar enquanto o inconsciente tenta, desesperadamente, nos dizer algo.
E assim vamos nos distanciando da nossa essência, enquanto o inconsciente continua sendo essa matriz poderosa que tenta nos despertar, especialmente nos sonhos. O fato é que os sonhos trazem informações valiosas para nós. E é aí que podemos começar a refletir: será que estamos ouvindo essas mensagens? Será que estamos prestando atenção nos sinais que o inconsciente está nos enviando, seja em forma de sonho ou sincronicidade? Se não estamos, talvez seja hora de dar uma olhada mais profunda nessa dimensão oculta da nossa mente. Afinal, é ela que tem o poder de nos guiar rumo a uma vida mais plena, integrada e… desperta.
Agora, me conta: o que você sonhou na última noite?
O tema dos sonhos é parte da Aula 27 do Estudo Aberto: Nosso Lar segundo o Hermetismo, com Juliano Pozati, que vai ao ar todas as quarta-feiras, às 20h, no YouTube. Confira a aula completa: