Neuroteologia é novo campo de estudo.
Cientistas preveem que até 152 milhões de pessoas no mundo estarão vivendo com o mal de Alzheimer até 2050. E ainda não existem medicamentos com impacto positivo significativo, seja na prevenção ou na reversão do declínio cognitivo decorrente da doença. Porém, um artigo publicado no Journal of Alzheimer’s Disease, dos pesquisadores Dr. Dharma Singh Khalsa e Dr. Andrew B. Newberg, publicada pela IOS Press, examina pesquisas que mostram que a “aptidão espiritual”, novo conceito na medicina que se concentra no bem-estar psicológico e espiritual; e a Kirtan Kriya, uma prática meditativa de 12 minutos, pode reduzir múltiplos fatores de risco para o Alzheimer.
“O ponto chave deste artigo é que o compromisso com um estilo de vida para a longevidade cerebral, incluindo a aptidão espiritual, é uma forma importante para envelhecer livre do mal de Alzheimer”, explicam os autores.
Dr. Khalsa é professor de medicina na Fundação de Pesquisa e Prevenção de Alzheimer e Dr. Newberg, professor no Departamento de Medicina Integrativa e Ciências Nutricionais da Universidade Thomas Jefferson, ambos nos EUA.
“Esperamos que este artigo inspire cientistas, clínicos e pacientes a abraçar este novo conceito de aptidão espiritual e torná-lo parte de cada programa multidomínio para a prevenção da deficiência cognitiva”.
As pesquisas revelam que o envolvimento religioso e espiritual pode preservar a função cognitiva à medida que envelhecemos. Os autores observam que, hoje em dia, a espiritualidade é frequentemente vivenciada fora do contexto de uma religião organizada e pode fazer parte de cada religião ou estar separada dela. A aptidão espiritual é uma nova dimensão na prevenção do Alzheimer, entrelaçando o bem-estar básico, psicológico e espiritual. Os autores discutem na pesquisa sobre como estes fatores afetam o funcionamento e a cognição do cérebro. Por exemplo, o bem-estar psicológico pode reduzir a inflamação, as doenças cardiovasculares e a incapacidade. Indivíduos que têm uma pontuação alta em uma medida de “propósito na vida”, um componente do bem-estar psicológico, tinham 2,4 vezes mais probabilidade de permanecerem livres do Alzheimer do que indivíduos com “propósito na vida” baixo.
Em outro estudo, os participantes que relataram níveis mais altos de “propósito na vida” exibiram melhor função cognitiva e, além disso, o “propósito na vida” protegeu aqueles com condições patológicas já existentes, retardando assim seu declínio. O estresse e a gestão do estresse são tópicos pouco discutidos na prevenção do Alzheimer , mas os autores apontam que há amplas evidências de que os efeitos físicos, psicológicos e emocionais do estresse podem elevar o risco da doença.
Técnica meditativa mostra resultados
Kirtan Kriya é uma meditação de 12 minutos de canto que envolve quatro sons, respiração e movimentos repetitivos dos dedos. Tem múltiplos efeitos documentados sobre o estresse, como a melhora do sono, a diminuição da depressão e o aumento do bem estar. Também foi constatado que aumenta o fluxo sanguíneo para áreas do cérebro envolvidas na cognição e regulação emocional e aumenta o volume de matéria cinzenta e diminui o tamanho ventricular em praticantes de longo prazo, o que pode retardar o envelhecimento do cérebro. Pesquisas em indivíduos saudáveis, cuidadores e aqueles com declínio cognitivo descobriram que a prática melhora a cognição, retarda a perda de memória e melhora o humor.
A relação geral entre a aptidão espiritual e a completa saúde física e mental de uma pessoa é um tópico de investigação no emergente campo de estudo chamado neuroteologia. Os primeiros trabalhos se concentraram no desenvolvimento de modelos a respeito de quais áreas do cérebro são afetadas através de práticas espirituais como a meditação ou a oração.
Nos últimos 20 anos, houve um amplo crescimento na neuroimagem e outros estudos fisiológicos avaliando o efeito da meditação, práticas espirituais e experiências místicas. Um estudo de neuroimagem da KK encontrou efeitos cerebrais de longo prazo, durante a meditação e posteriormente. Estudos neuroteológicos podem ajudar a entender como uma prática como a KK pode levar a efeitos mais permanentes na função cerebral que apoiem a aptidão espiritual, de acordo com Dr. Khalsa e o Dr. Newberg.
“Mitigar os imensos efeitos bioquímicos negativos do estresse com práticas de meditação, em conjunto com a criação de níveis elevados de aptidão espiritual, pode ajudar a diminuir o risco do Alzheimer . Pequenos turnos na rotina diária podem fazer toda a diferença na prevenção”, concluem o Dr. Khalsa e o Dr. Newberg. “Estamos otimistas que este artigo irá inspirar futuras pesquisas sobre o tema da aptidão espiritual e da doença de Alzheimer”.
Fonte: IOS Press, com tradução de Grazieli Gotardo.