A maioria de nós quando começa seu despertar espiritual passa por uma fase em que minha querida amiga e professora do Círculo, Dra. Larissa Borges, chama de fase do “espiritualista bêbado”, que é quando a gente bebe de diferentes fontes de conhecimentos espirituais e acaba ficando sem foco.
O problema dessa fase não é buscar o conhecimento, isso é ótimo, mas em geral a gente não consegue transformar tudo isso em ação, tamanho o volume de novos conteúdos acessados. E a vida começa a perder sentido, pois todos os famosos marcadores de sucesso da vida cotidiana que a gente perseguia como carreira, casa, carro, grana, viagens…começam a não fazer mais tanto sentido. Começam os problemas de relacionamento com família, cônjuge, amigos…. pois você viveu a expansão de consciência, os outros não.
O que acontece é que nós atingimos uma nova consciência, mas não conseguimos realizar de acordo com essa nova consciência. Claro que não estou invalidando nenhuma experiência espiritual, que pode ser muito boa, contanto que ela ajude nosso sistema mental a realizar o que viemos realizar na terceira dimensão. Mas se as experiências começam a nos ejetar para fora da realidade que nos cerca, a nos alienar, não são experiências úteis. Desconfie. Porque o objetivo da espiritualidade é viver a vida plenamente, em todos os seus sentidos e dimensões.
Espiritualidade Fantasiosa x Espiritualidade Cocriativa
E aí vem a sensação de estagnação. De um lado, experiências que te arrebatam, que podem ser projeção astral, lembranças de vidas passadas, falar com e receber mensagens espirituais etc… do outro, olhando pragmaticamente a vida, em geral a gente não sai do lugar. Esse é um momento muito frustrante. Aqui é importante diferenciar dois conceitos:
- Espiritualidade Fantasiosa – quando me ejeto da realidade e coloco a cabeça num buraco dimensional, que pode ser uma prática religiosa, uma experiência mediúnica, uma substância enteógena etc… A marca registrada da fantasia é quando eu me satisfaço na experiência por si mesma. Ela passa a ser um fetiche para minha mente. Não consigo fazer outra coisa senão ir lá “encher a cara de espiritualidade” para esquecer os problemas do dia a dia.
- Espiritualidade Cocriativa – aqui você continua tendo as experiências significativas que mexem com seu interior, mas elas vão gerar um movimento dentro de você que vai transformar a vida ao seu redor, seja carreira, família… você não vai fugir da vida, mas vai encarar como ela é, com todas as tretas. Isso é a Exoconsciência, uma habilidade de se conectar com outros planos, mas com um objetivo final, que é a cocriação. É ter a espiritualidade do seu lado para criar realidades ao seu redor.
Enquanto a gente tiver medo de encarar a nossa vida como um projeto espiritual vamos tentar nos ejetar dela. Só que não existem acasos no universo, existem leis ou princípios que operam a realidade. Se eu jogar algo para cima, vai cair, de acordo com a lei da gravidade, não é mesmo? É disso que estou falando quando digo que o universo opera por leis, existe uma estrutura que rege o universo em todas as suas manifestações.
Espiritualidade Natural
Quando penso na espiritualidade como um eixo que organiza meu projeto de vida, eu começo a entender que tudo na minha vida tem uma razão de ser. Tudo tem um propósito: seu chefe, sua carreira, a família onde você nasceu… A questão é que as pessoas que despertam nem sempre estão atentas à razão de ser de cada um desses elementos que compõem a vida.
Por isso, digo que as experiências espirituais vêm para dar significado à nossa vida. Essa é uma compreensão que tem a ver com um conceito relativamente novo que é da Espiritualidade Natural, a espiritualidade como uma dimensão orgânica do ser humano e como uma força que move o projeto de vida para realização.
Aqui no Círculo entendemos que a espiritualidade não é uma propriedade da religião, ou seja, eu não preciso estar em uma religião ou ser religioso para viver uma vida espiritual. Isso não é negar a religião, pois honramos e aprendemos com tudo que ela nos traz, mas não podemos negar que a religião foi e é muito usada como ferramenta política e de guerra, atuando a partir do medo das pessoas.
Entendo que estamos chegando a uma fase da humanidade em que conseguimos entender que ter espiritualidade não é ir à missa, ao culto ou tomar um passe. A espiritualidade é uma dimensão do ser humano que pode se expressar dentro ou fora da religião.
Espiritualidade para além da religião
E esse é um movimento que já está sendo catalogado pelas pesquisas. Na década de 1960 as pessoas que se intitulavam sem religião eram 0,5% da população (IBGE); já, em 2022, pela pesquisa Datafolha, somos 14%. Entre os jovens de 16 a 24 anos, esse número é ainda maior, chegando a 30% em São Paulo e 34% no Rio de Janeiro. O que mostra que em um futuro muito próximo, um terço das pessoas economicamente ativas no Brasil será de pessoas sem religião. Mas que necessariamente não deixam de ser espiritualizadas, não deixam de viver sua conexão espiritual, pois essa espiritualidade é uma dimensão do ser humano.
O ser humano é compreendido como um ser multidimensional, um ser com muitas dimensões, isso foi dito pela própria Organização Mundial da Saúde, na década de 1980, a partir dos protocolos de qualidade de vida. Depois, na década de 1990, a ciência começou a ver que a espiritualidade é algo muito mais humano do que religioso. E hoje temos muitas linhas de pesquisa científicas, especialmente dentro da psicologia positiva, que estudam e buscam mensurar essa espiritualidade, essa dimensão humana.
A espiritualidade é o eixo que organiza todas essas dimensões, pois ela nos dá capacidade de dar significado a tudo que vivemos. E o sentido espiritual vai se manifestar na nossa vida de duas formas: espiritualidade como valores e como fenômenos.
- Espiritualidade como valores – é um lugar comum que nos ajuda a costurar os valores que permeiam os seres humanos, entram aqui valores éticos e morais; regras de ouro como “não fazer ao outro o que não quer que faça para você mesmo”. É uma espiritualidade com expressão em valores humanos. É onde as empresas estão atuando e onde conseguimos passar as barreiras da religião.
- Espiritualidade como fenômeno – é quando os valores éticos e morais norteiam a minha força mental e vital, e eu começo a manifestar fenômenos. Por exemplo, já temos muitos estudos sobre o poder da oração na vida das pessoas. Já existe estudo, inclusive, que observou que o cérebro de pessoas que praticam espiritualidade é diferente visualmente de pessoas não espiritualizadas, e que as pessoas espiritualizadas se recuperam muito mais rapidamente de depressão.
Vemos que a ciência começa a medir os valores da espiritualidade no organismo das pessoas. E a espiritualidade madura, orgânica, natural é fruto de um processo de autoconhecimento. Quando chego ao ápice do processo de autoconhecimento, eu estou espiritualizado. Descubro que sou espírito, sou um ser multidimensional. E começo a tomar decisões com base em quem eu sou.
Respostas de 2
É sobre isso Juliano! Buscar nossa Espiritualidade Natural! Até segunda na sede! 😉
Ótimo artigo!