Ainda existem muitas dúvidas sobre o estilo de vida e/ou dieta vegana e venho aqui trazer a minha vivência e alguns fatos que entendo que precisam de maior atenção de todos que fazem sua caminhada neste planeta. Minha consciência com esse assunto veio logo aos 13/14 anos, quando já entendia que consumir animais não era algo bacana e não combinava com quem eu queria ser. Mas a falta de apoio da família, amigos e até mesmo a falta de informação, me fez continuar carnista até meus 19 anos.
E foi em 2015 que eu tomei coragem e falei “ok, a partir de agora eu escolho que eu não vou comer mais animais”. Então, parei de consumir carnes, como de gado, porco e aves, mas ainda consumia peixes e frutos do mar, além de derivados de leite e ovos. E assim foi até o começo de 2020, início da pandemia mundial de Covid-19, quando eu não precisava mais me alimentar fora de casa, e, assim, me aventurei na alimentação vegetariana estrita, também conhecida como vegana. Também assisti documentários sobre a indústria da carne e assumi um caráter de responsabilidade pelas minhas escolhas.
Venho observando que existe sim uma efervescência em torno do veganismo. Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, de janeiro de 2016 a janeiro de 2021, o volume de buscas pelo termo ‘vegano’ aumentou mais de 300% no Brasil. Atualmente, existem mais de 3.523 estabelecimentos no país que oferecem pelo menos uma opção vegana no cardápio. Já é bem mais fácil encontrar opções e o termo tem ganhado espaço na mídia..
O que é veganismo?
O termo veganismo foi criado em 1944, mas a ideia de não comer carne já existia desde os primórdios da humanidade no oriente e no ocidente. Por volta de 500 a.c., Pitágoras já falava das vantagens de se seguir um regime vegetariano. Ele acreditava que todas as criaturas vivas possuíam almas, por isso, defendia uma dieta sem carne. Inclusive, até o surgimento do movimento vegetariano moderno, uma dieta sem a presença de carne era chamada de dieta pitagórica. Algumas pessoas até dizem ser Pitágoras o pai do vegetarianismo. Além disso, a dieta vegetariana foi discutida ao longo de vários séculos por personalidades como Leonardo da Vinci, Rousseau, Mary Shelley e Albert Einstein.
A The Vegan Society define o veganismo como “uma forma de viver que busca excluir, na medida do possível e do praticável, todas as formas de exploração e de crueldade com animais, seja para alimentação, vestuário ou qualquer outra finalidade”.
O aspecto mais famoso do veganismo é que é uma dieta baseada em vegetais, que evita todos os alimentos de origem animal (carne, laticínios, ovos e mel). Mas o veganismo não se restringe apenas à alimentação e é um estilo de vida que não inclui produtos de vestuário, higiene pessoal, entretenimento, entre outros, que exploram animais durante o seu processo produtivo. Incluindo aqui produtos que tenham sido testados em animais ou até mesmo rodeios.
O veganismo combate a crueldade e promove um estilo de vida benéfico para seres humanos e animais, sendo um posicionamento ético e político harmônico à ecologia do Planeta Terra.
Por que um estilo de vida vegano?
No Brasil, a indústria da carne é responsável por mais de 80% do desmatamento da floresta amazônica e também a causa número 1 da extinção de outras espécies. A floresta é desmatada para abrir pastos ou para plantar grãos que serão usados para alimentar bois, porcos e galinhas. E é claro que o alto consumo de carne só acelera esse processo. Isso também tem tudo a ver com o aquecimento global.
A Universidade de Oxford realizou um estudo para calcular as emissões globais médias envolvidas na produção de 40 dos principais alimentos mundiais, com dados de 40 mil fazendas pelo mundo. Os pesquisadores chegaram à conclusão que as carnes e os produtos derivados de animais estão no topo da lista, sendo as comidas que mais degradam o meio ambiente.
Um relatório recente do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) das Nações Unidas, elaborado para a COP26, alerta que “dietas à base de vegetais podem reduzir as emissões de carbono em até 50% comparado com a média de emissões da dieta Ocidental.”
De acordo com a ONG WWF, se a pesca continuar no ritmo atual, é possível que as espécies pescadas hoje desapareçam até o ano de 2048. Não está longe. Enfim, sejam porcos, peixes, vacas ou galinhas, a indústria é a mesma. A exploração e a crueldade são as mesmas.
O planeta Terra não consegue suportar esse ritmo de consumo. É por isso que considerar o veganismo é uma atitude para quem se preocupa com o futuro do planeta.
Mas e a saúde?
Vários nutricionistas já provaram que é uma lenda urbana essa história de que precisamos consumir animais ou produtos de origem animal para adquirirmos toda a quantidade de proteína necessária pra gente ser saudável. Se você possui uma dieta balanceada e variada, que atende às suas necessidades nutricionais do seu corpo, é bem tranquilo. Um prato de arroz e feijão possui todos os aminoácidos essenciais para o corpo humano.
Eu recomendo fortemente que você faça um acompanhamento nutricional caso opte por uma dieta à base de vegetais porque cada corpo é um corpo. Mas vai dar tudo certo. Já temos muitos estudos que demonstram os benefícios desse tipo de dieta, que ajuda muito na redução do colesterol, combate à doenças cardíacas e até cânceres. Deixo aqui uma dica de livro para quem se interessa por esse viés nutricional e da saúde: Comer Para não Morrer (2018), do Michael Greger.
Veganismo e Nova Terra
Por fim, aqui no nosso meio espiritualista estamos falando muito sobre Nova Terra, e eu considero o veganismo uma atitude da Nova Terra. Uma única pessoa não faz a diferença quando pensamos em grandes mudanças, mas ela é capaz de inspirar e influenciar mais pessoas para que hajam mudanças individuais que impactem no coletivo. O importante é dar o primeiro passo, mesmo que a caminhada seja lenta. A chave é a coerência e consistência ao longo do tempo.
Estamos falando de uma lógica que coloca em cheque a ideia de que o ser humano é melhor do que os outros animais e até mesmo alheio à natureza. Nos afastamos da ideia do Ego e nos aproximamos da ideia do Eco, o ser humano integrado ao seu planeta e às outras espécies.