A pauta da saúde mental vem ganhando grande destaque nos últimos anos, em especial após a pandemia mundial de Covid-19, que exigiu grandes doses de adaptação e resiliência das pessoas. O mundo do trabalho é apenas mais uma dimensão em que esse assunto ganhou palco, não só devido às transformações, mas por ser um local em que pesquisas já indicavam um adoecimento das pessoas.
De acordo com relatório Saúde Mental no Trabalho, da Organização Mundial do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), 61% da população mundial compõe a força de trabalho disponível nas mais diversas ocupações. Calcula-se que mais de 300 milhões de pessoas em todo mundo tenham depressão, boa parte delas em idade produtiva. A OMS também indica que o suicídio, pior desfecho da depressão e de outros transtornos mentais, é a causa de morte de mais de 700 mil pessoas por ano.
O ser humano é o mesmo em todas as dimensões de sua vida, por isso, mensurar e prevenir a saúde mental é o caminho para as organizações que querem continuar com sua força produtiva.
Uma das formas de mensurar o impacto desses problemas são os custos gerados por eles. Conforme dados da OIT/OMS em todo o mundo:
- 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade;
- Nesse mesmo intervalo, estima-se que o custo financeiro para a economia global alcance USS 1 trilhão de dólares;
- Pelo menos 50% desses custos se dão de forma indireta, principalmente devido à perda de produtividade;
Como fica claro, o custo de não considerar a saúde mental traz prejuízos em todas as dimensões. Por outro lado, uma série de medidas pode contribuir para reverter tal quadro. Um levantamento feito pela healthtech Zenklub mostra que colaboradores mais engajados com a terapia permanecem mais tempo no trabalho. Esse número é resultado da comparação de uma base de dados com as informações de 3100 pessoas entre janeiro de 2020 e maio de 2022.
Entre os 1600 considerados mais participativos nas sessões de terapia (ou seja, que haviam participado de ao menos 4 consultas), o tempo de permanência na empresa alcançou ao menos 363 dias. Esse período foi, em média, 85 dias maior que entre os 1500 colaboradores menos participativos das sessões. Além disso, o levantamento indicou que cada mês de terapia (período que compreende 4 ou 5 sessões), aumentava em um mês a permanência do colaborador no posto.
É claro que medidas pontuais podem trazer bons resultados, ampliando o bem-estar da equipe. Diante da complexidade da questão, vale considerar sempre uma abordagem mais estrutural, com estratégias capazes de enfrentar as questões a partir de diferentes frentes, como:
1. Trabalhe a prevenção
De forma geral, a prevenção deve estar focada no mapeamento e gerenciamento dos riscos psicossociais associados ao trabalho. Entre algumas medidas que podem ser adotadas nesse sentido estão a possibilidade de flexibilidade na rotina de trabalho e a garantia de que a carga de trabalho seja compatível com outros aspectos da vida cotidiana, tão importantes quanto a atividade profissional.
Além disso, reforçar uma cultura organizacional saudável, ampliar os canais de comunicação e eliminar práticas de discriminação e abuso são cuidados essenciais. No mais, sempre envolver os colaboradores nas decisões sobre seu trabalho faz toda a diferença.
2. Garanta a proteção da saúde mental no trabalho
Nessa etapa é importante considerar o incremento da consciência dos colaboradores sobre problemas de saúde mental. A partir disso, além de aumentar a autopercepção em torno do próprio bem-estar, a ampliação das informações ajuda na redução do estigma em torno desse tipo de condição. Logo, isso pode encorajar na busca por ajuda especializada.
Ao mesmo tempo, é possível investir numa cultura organizacional mais tolerante e inclusiva, na qual todos são capazes de reconhecer os impactos de situações de estresse psicológico e saber como lidar com elas. Assim, fomentar habilidades de comunicação e escuta ativa entre todos os postos certamente contribui com isso.
3. Mantenha o suporte às pessoas com problemas de saúde mental
Embora medidas de prevenção sejam essenciais, nem sempre elas são suficientes para evitar o adoecimento. Logo, em contrapartida, é essencial assegurar a quem sofre com problemas de saúde mental não só o acesso ao trabalho, como o suporte necessário para que ela consiga desenvolver suas atividades.
Entre alguns cuidados simples que podem ser adotados estão a flexibilização na carga de trabalho ou mesmo o tempo necessário para que a pessoa possa se dedicar ao seu tratamento. Outra iniciativa razoável envolve a manutenção de um ambiente acolhedor para pessoas que estão retornando ao trabalho após sofrerem com um transtorno mental.
O fato é que garantir uma cultura de prevenção e suporte dentro da pauta da saúde mental no trabalho por meio de diferentes formas de cuidado é a forma mais eficaz de evitar o sofrimento gerado pelo adoecimento psíquico, bem como todos os prejuízos econômicos e sociais atrelados a problemas dessa natureza.
Fonte: https://abqv.org.br/conteudo/453/a-importancia-da-saude-mental-no-trabalho-e-3-dicas-para-promove-la-de-forma-acolhedora