“Uma das maneiras de solucionar o Paradoxo EPR consiste em postular
a existência de um éter por trás do cenário espaço-tempo,
onde ocorreriam sinais mais rápidos que a luz”Amit Goswami (1936), O Universo Autoconsciente
“Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os corpos, esse fluido é o éter ou matéria cósmica primitiva, geratriz do mundo e dos seres”
Allan Kardec (1804-1869), A Gênese
Uma Visão Quântico Espírita
Quando o homem se pergunta: “quem sou eu?”, “de onde vim?” e “para onde vou?”, não obtém respostas convincentes às suas dúvidas existenciais.
Percebe-se inserido em um universo que, na maioria das vezes, não consegue compreender e muito menos explicar, por mais que procure se informar.
Procurando a ciência – a forma metodizada e confiável para se entender a natureza, a qual, isoladamente, não resolve suas angústias; e a religião, respaldando-se na fé, dá respostas que fortalecem a esperança, mas não atendem às súplicas da razão.
Unindo-se as duas, todavia, tudo parece ficar mais claro, pois se a religião fala da gênese do universo, a ciência mostra como chegar até ela, pois se não sabemos de onde viemos, jamais saberemos quem somos.
Percebendo-se inserido nesse Universo, o homem, sentindo-se ao mesmo tempo observador e observado, construtor, mas também construído, compondo-se na realidade das suas relações existenciais, constata a sua própria singularidade, conscientizando-se, então, da sua trajetória na matéria, sem se desconectar da sua jornada cósmica, e se dá conta que, sendo capaz de refletir com objetividade sobre como é o mundo, é porque faz parte dele.
Nesse momento constata que o homem, enquanto homem, é poeira das estrelas e, enquanto Espírito, é um Ser inteligente povoando o universo, fora do mundo material (KARDEC, 1999, q.76, p.67), habitando temporariamente um planeta chamado Terra, localizado na extremidade de uma Galáxia chamada Via Láctea.
Foi nesse contexto que, em 1927, o sacerdote católico e astrofísico belga Georges Lemaître (1894-1966) apresentou a sua Teoria do Átomo Primordial, sugerindo que o universo teria nascido de uma suposta explosão, chamada de Big Bang[1], ocorrida cerca de 13,8 bilhões de anos, que contemplava as hipóteses de um universo aberto[2], de um universo plano[3], ou de um universo fechado[4], com este último retornando ao “átomo primordial”: o hidrogênio, teoria essa fortalecida por George Gamow (1904-1968), na década de 40 e confirmada pela Radiação Cósmica de Fundo[5], de Arno Allan Penzias (1933- ) e Robert Woodrow Wilson (1936- ), em 1965.
Em seus primeiros momentos essa teoria não obteve respaldo dos cientistas da época, sendo um pouco mais tarde aceita pelo Papa Pio XII (1876-1958), por entender que se o universo teve um início é porque foi criado, então teria que existir um Criador: Deus.
Desde aquela época perdura a percepção de que a origem do universo sempre foi uma questão para teólogos e não para os cientistas, espelhada pelas palavras de Robert Jastrow (1925-2008), astrônomo, físico, cosmólogo e ex-diretor da NASA:
“Para o cientista que se pautou pela fé no poder da razão, a história termina como um sonho ruim. Ele escalou a montanha da ignorância; está prestes a conquistar o pico mais alto; ao transpor a última rocha, ele é saudado por um grupo de teólogos que estavam sentados lá há séculos” (POWEL, 2005, p.19)
Historicamente o homem sempre se limitou a um planeta, a um sistema solar, a uma galáxia ou a um universo, limites esses que não passam de uma descrição parcial da verdade.
Auspiciosamente, a humanidade hoje dispõe de dois conjuntos de leis para perceber como a natureza funciona: a Teoria da Relatividade para o macrocosmo e a Física Quântica para o microcosmo, que na realidade são complementares e não antagônicas, pois enquanto a primeira se dedica à compreensão de tudo que funciona abaixo da velocidade da luz (local), a segunda explica tudo que “existe” acima da velocidade da luz, a não-localidade, fora do espaço-tempo. Por isso sugere-se chamá-la de física multidimensional, por razões óbvias.
No que se refere ao macrocosmo, embora os avanços da física clássica, o maior mérito da cosmologia, até agora, foi o de provar que o céu não existe e nem é o limite.
Embora o enorme sucesso ao explorar o espaço universal, em um século de sua existência, a cosmologia moderna ainda não conseguiu efetivamente saber do que é feito o universo e dele só conhece 5%, já que 95% recebem as denominações provisórias de matéria escura e energia escura, das quais, embora seus efeitos sejam percebidos, as causas ainda são desconhecidas, talvez pela ciência não atentar para um dos alertas do grande cientista sérvio, Nikola Tesla (1856-1943), ao afirmar que no dia em que a ciência começar a estudar fenômenos não físicos, ela irá progredir mais em uma década do que em todos os séculos anteriores de sua existência.
Nesse mesmo sentido, pode-se inferir, também, que a “…a ciência não conhece bastante, mas chegará lá se quiser caminhar com o Espiritismo”[6], pois é chegada a hora de ele ocupar o seu lugar entre os conhecimentos humanos.
Uma nova postura cosmológica poderia abrir espaço para novos horizontes e levar a ciência incluir em suas pesquisas as chamadas variáveis ocultas não-locais, acolhendo a possibilidade da existência do Espírito e do Mundo Espiritual como hipóteses científicas válidas, partindo de colocações como a do físico americano David Bhom (1917-1992):
“A ideia atual do universo pode representar algum estágio de um universo maior, um universo de luz. Até onde podemos perceber esse universo de luz é eterno. Entretanto, a certa altura, alguns desses raios luminosos se juntaram e produziram a grande explosão – o Big-Bang. Isso desencadeou o nosso universo, que também terá um fim”[7]
Coincidentemente a Teoria das Cordas apresenta, também, uma hipótese bastante plausível para a existência do nosso universo: com o Big Bang três dimensões espaciais e uma dimensão temporal se desdobraram e expandiram até as proporções atuais, com as demais dimensões permanecendo pequenas e recurvadas na distância de Planck (10-35m). (GREENE, 2001, p.229).
Lembrou-nos KARDEC, através de O Livro dos Espíritos, que o universo abrange a infinidade dos mundos que vemos e aqueles que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se movem no espaço e os fluidos que o preenchem. (KARDEC, 1.999, p.54)
Assim, o nosso universo pode ser infinito somente para o homem, porque no microcosmo do universo-matéria, fora do espaço-tempo, há um outro mundo, este sim infinito de verdade,[8] um mundo que interpenetra o nosso e com ele se confunde, composto pela mesma matéria[9], mas em outra dimensão, fora do espaço-tempo: o mundo espiritual, ou dos Espíritos.
Esse Mundo Espiritual é o único legítimo e eterno, o Mundo Material poderia deixar de existir ou nunca ter existido, sem alterar a essência desse mundo espiritual. (KARDEC, 1999, q.84, 85 e 86, p.68-69)
Na tentativa de se compreender a magnitude de tal afirmação, oportuno se faz lembrar que a chamada “realidade local” que nos cerca corresponde somente a 12,5% (NOBRE, 2012, p.13), enquanto que “realidade não-local” é estimada em 87,5%, o que nos remete ao Teorema de Bell quando estabelece que as variáveis ocultas, para serem compatíveis com a mecânica quântica, terão que ser não-locais. (GOSWAMI, 2003, p.154).
Felizmente, para uma melhor abordagem dessa “realidade não-local” é que surgiu, no início do século XX, a Física Quântica, em virtude de a Física Clássica não conseguir explicar os eventos que acontecem fora do espaço-tempo, abaixo da escala de 10-10m (um angstrom). Ela possui princípios, que dão suporte à formatação do conhecimento e de novas teorias, e postulados, que são aceitos como verdades axiomáticas.
Provavelmente por essa razão é que Emmanuel nos lembra que o homem procura entender o universo olhando do mundo material para o mundo espiritual, mas através de André Luiz deve estudá-lo do mundo espiritual para o mundo material, auxiliando na construção de novos tempos (XAVIER/LUIZ, 2015, p.10), em um processo que a Física Quântica denomina de causação descendente.
Façamos isso!
Primeiramente, há que se considerar a existência de Deus como causa primeira de todas as coisas, materiais e imateriais, a causa de todas as causas, inferindo-se, por isso, que se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente tem uma causa inteligente, assim, como não existe efeito sem causa, todo efeito cuja causa não é o homem, lá está Deus.
Deus criou o Princípio Espiritual (Inteligente) e o Princípio Material (Energético) desde toda a eternidade e, ao mesmo tempo, cujas existências, por se tratar de verdades axiomáticas, não precisam de demonstração, pois se afirmam pelos seus efeitos. (KARDEC, 2001, p.174).
Esse Princípio Espiritual (Inteligente), em sua sequência evolutiva, inicialmente aprende a respirar nas plantas, movimentar-se nos animais e a pensar no homem, como Ser Inteligente, o Espírito.
Há que se considera, todavia, que embora a inteligência do homem e dos animais tenham a mesma origem, o Princípio Inteligente[10], após sua fase protespirítica, ao encarnar no corpo do homem como Ser Inteligente, o Espírito[11], portador do seu livre-arbítrio, traz consigo o princípio intelectual e moral que o torna superior aos animais. (Kardec, 1999, 540, 605-a e 606-a, p.205, 222 e 223)
O Princípio Material (Energético), que também pode ser chamado de Mundo Espiritual, seria constituído de energias de alta potência, de alta frequência e curtíssimo comprimento de onda, fora do espaço-tempo, portanto, sendo ele a causa e origem do Mundo Material, pois, conforme retromencionado, esse Mundo Espiritual é o único legítimo e eterno.
Considere-se, também, que como Deus não age diretamente sobre a matéria, ou energia de baixa frequência, (KARDEC, 1999, q.536-b, p.204), pois quem faz isso são os Espíritos Puros, responsáveis por manter a ordem e a harmonia do universo, coadjuvados pelos Espíritos das demais ordens. (KARDEC,1999, q.113 e 540, p.77 e 205).
Perceba-se que nesse Universo “a matéria, congregando milhões de vidas embrionárias, é também a condensação da energia, atendendo aos imperativos do “eu” que lhe preside à destinação. Do hidrogênio às mais complexas unidades atômicas, é o poder do espírito eterno a alavanca diretora de prótons, nêutrons e elétrons, na estrada infinita da vida”[12], sendo o elétron um dos corpúsculo-base da matéria elementar, o Fluido Cósmico Universal. (XAVIER e VIEIRA, 2014, p.31)
Sobre esse Fluido, segundo André Luiz, ele seria o plasma divino, a origem de tudo, o hausto do Criador ou força nervosa do Todo-Sábio, e é nesse elemento primordial que vibram e vivem as constelações e os sóis, os mundos e os seres, como peixes no oceano. (XAVIER e VIEIRA, 2014, p.19)
Diante de tais informações, uma nova leitura deverá se ampliar mais ainda quando a ciência humana, valendo-se da Física Quântica (multidimensional), ultrapassar a singularidade[13], seja ela do Big Bang, dos buracos negros ou do núcleo atômico, quando irá perceber que ela é “somente” a fronteira entre o local e o não-local, entre o Mundo Material e o Mundo Espiritual, onde a gravidade é uma propriedade relativa, pois fora das esferas do mundo material não há peso, nem acima, nem abaixo.[14] E, em dado momento, todos iremos perceber Deus em todos os lugares do macrocosmo, mas somente poderemos compreendê-Lo, e a nós mesmos como Espíritos, no microcosmo.
E a ciência humana somente conseguirá avançar mais celeremente, quando passar a considerar em suas pesquisas as variáveis ocultas, não-locais, tais como: o Fluido Cósmico Universal, o Espírito e, em um futuro não muito distante, Deus, como inteligência suprema.
Finalmente, as respostas para aquele homem que conduz seus pensamentos em ordem, seria a de que ele é um Espírito Imortal, veio do Mundo Espiritual e a ele retornará após a “morte” do seu corpo físico.
E que assim seja!
Oduvaldo Mansani de Mello é Teólogo, com formação em Ativismo Quântico, Trabalhador do CELC – Centro Espírita Luz da Caridade (Curitiba) e Membro Efetivo da AME-PR. Autor do livro: O ÁTOMO E O ESPÍRITO
REFERÊNCIAS
GOSWAMI, Amit. O Universo Autoconsciente. Tradução: Ruy Jungmann. 6 ed. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 2003.
GREENE, Brian. O Universo Elegante, supercordas, dimensões ocultas e a busca da teoria definitiva. Tradução: José Viegas Filho. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
KARDEC, Allan. A GÊNESE: Os milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. Tradução: Victor Tollendal Pacheco. 20 ed. São Paulo: LAKE, 2001.
______________. O Livro dos Espíritos. Tradução: Renata Barboza da Silva e Simone T. Nakamura Bele da Silva. São Paulo: PETIT, 1999.
______________. O Livro dos Médiuns. Tradução: Renata Barboza da Silva e Simone T. Nakamura Bele da Silva. São Paulo: PETIT, 2004.
MELLO, Oduvaldo Mansani de. O ÁTOMO E O ESPÍRITO – Uma Visão Quântico Espírita. Curitiba, 2017
MORRIS, Richard. O Que Sabemos Sobre o Universo. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
NOBRE, Marlene. Alma e Matéria. São Paulo: FE Editora Jornalística Ltda., 2012.
POWEL, Corey S. A Equação de Deus: como Einstein transformou a conceito de religião. Tradução: Ivo Korytowski. São Paulo: Arx, 2005.
XAVIER. Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos. Ditado pelo Espírito André Luiz. 27 ed. Brasília: FEB, 2014
________. Libertação. Ditado pelo Espírito André Luiz. 33 ed. Brasília: FEB, 2016
________. Nos Domínios da Mediunidade. Ditado pelo Espírito André Luiz. 36 ed. Brasília: FEB, 2015
[1] Termo jocosamente cunhado por Fred Hoyle (1915-2001), astrônomo britânico, que detestava a teoria.
[2] “O Universo aberto se expandirá por toda a eternidade”. (MORRIS, 2001, p.60).
[3] “O Universo plano com a sua expansão vai ficando cada vez mais lenta, porém sem nunca se deter por completo”. (MORRIS, 2001, p. 61).
[4] “O Universo fechado é finito e acabará por se contrair numa grande implosão”. (MORRIS, 2001, p.60).
[5] Radiação em micro-ondas que abrange todo o universo, produzida pelo Big Bang.
[6] KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, cap.4, parte primeira, item 51, p.51-52
[7] http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2006/03/david_bohm.html Acesso: 09 fev 2018
[8] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 1999, q.35, 37 e 39
[9] _________. A Gênese, 2001, cap. VI, item 17, p.98
[10] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 1999, q.23
[11] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 1999, q.76
[12] XAVIER, Francisco Cândido. Libertação, Pelo Espírito André Luiz, 2016, p.18.
[13] Local onde as noções de espaço-tempo se dissolvem.
[14] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 1.999, q. 29.
Uma resposta
Olá Juliano e Equipe do Circulo,
Sempre estou na alegria plena quando estou a inserir(alimentação)todo esse conhecimento profundo que mim leva a evolução do meu SER-HUMANO e sindo como o meu caminhar nesta jornada de vida torna-se leve e CONSCIENTE.
Gratidão INFINITA por ser aluna do CIRCULO e ter vocês como meus professores🙏🦋
Beijos com carinho e Amor💛
Maria das Dores