Quase que diariamente abro o livro de forma aleatória e leio uma de suas passagens, assim como se faz com livros místicos ou religiosos.
Conheci o escritor e poeta Khalil Gibran* nas minhas aulas de Yoga, há uns 15 anos. Minha professora na época, primeira mestra dessa linda arte da união do corpo, mente e alma, que é o Yoga, gostava de colocar o áudio do livro O Profeta, obra de Khalil Gibran de 1923, para o relaxamento ao final da aula.
Eu confesso que entendia muito pouco do que ele dizia e até hoje certamente não compreendo toda sua profundidade. Mas cada vez que leio uma de suas pérolas filosóficas e poéticas sinto que entro um pouco mais na sua infinita sabedoria. Então, considero que hoje compreendo um pouco mais.
Mas mesmo naquela época, apenas ouvindo e sem ter a dimensão da grandeza desse texto, aquelas palavras me atraiam. Faziam um sentido dentro de mim que eu não sabia explicar. Parecia que eu estava ouvindo uma língua estrangeira da qual eu não tinha conhecimento e, mesmo assim, surpreendentemente, ela fazia sentido.
Muitos anos se passaram, mudanças na vida, estudos, trabalho, busca pela expansão da consciência, sorrisos e lágrimas, sonhos e desilusões. Enfim, a vida como ela é. Mas quem busca sempre encontra. Uma vez ouvi que persistência é um dos segredos do caminho, acredito que sim.
E eis que no louco ano de 2020 o livro impresso “O Profeta” veio parar em minhas mãos por meio de uma amiga querida, que estava fazendo a energia circular em sua casa e se desfazendo de algumas coisas. Ela perguntou, sem saber de meu apreço pela obra, se eu queria o livro. Uma edição já amarelada, de 1978, ano do meu nascimento.
Quase que diariamente abro o livro de forma aleatória e leio uma de suas passagens, assim como se faz com livros místicos ou religiosos. E sempre recebo gratas surpresas de um entendimento cada vez mais profundo de sua mensagem. As vezes abro vários dias na mesma passagem, e leio toda ela novamente, buscando outros ângulos.
E nas últimas semanas do ano de 2020, abri em uma mensagem que foi um pouco a síntese do meu ano: O Conhecimento de Si Próprio. Seria arrogância dizer que me conheço integralmente, longe disso, mas é o símbolo de um momento significativo desse meu estar Grazieli, de olhar no espelho da alma e tirar alguns filtros e máscaras que assumi até hoje.
Dá medo, mas liberta. Apreciem o texto.
O Conhecimento de Si Próprio, Khalil Gibran (O Profeta)
E um homem disse: “Fala-nos do conhecimento de si próprio.”
E ele respondeu, dizendo:“Vosso coração conhece em silêncio os segredos dos dias e das noites;
Mas vossos ouvidos anseiam por ouvir o que vosso coração sabe.
Desejais conhecer em palavras aquilo que sempre conhecestes em pensamento.
Quereis tocar com os dedos o corpo nu de vossos sonhos. E é bom que o desejeis.A nascente secreta de vossa alma precisa brotar e correr, murmurando para o mar;
E o tesouro de vossas profundezas ilimitadas precisa revelar-se a vossos olhos.Mas não useis balanças para pesar vossos tesouros desconhecidos;
E não procureis explorar as profundidades de vosso conhecimento com uma vara ou uma sonda,
Porque o Eu é um mar sem limites e sem medidas.Não digais: ‘encontrei a verdade.‘ Dizei de preferência ‘Encontrei uma verdade.‘
Não digais: ‘Encontrei o caminho da alma.‘ Dizei de preferência: ‘Encontrei a alma andando em meu caminho.‘
Porque a alma anda por todos os caminhos.
A alma não marcha em linha reta nem cresce como um junco.
A alma desabrocha, qual um lótus de inúmeras pétalas.”
* Gibran Kahlil Gibran (1883 – 1931) foi um célebre escritor e poeta libanês que fez carreira nos EUA, escrevendo diversos livros em árabe e em inglês.
Respostas de 2
A vida tem mais sentido quando bem sentida. Aquele que ja consegue sentir sua existência com profundidade, jamais se sente sozinho. Autoconhecimento é aprofundar em si mesmo, com entusiasmo sem medo de ser feliz.
É isso Maria de Lourdes! grata pelo comentário.