Eu dei muita risada quando ouvi pela primeira vez o termo “turma do namastreta” (namastê + treta) para designar aquela turma que já sabe o significado de namastê mas que ainda adora a boa e velha treta (do verbo e neologismo tretar: arrumar confusão, intriga, discórdia, discussão exarcebada, maledicência e afins). Muito se engana quem, desavisado, espera encontrar uma miríade de anjos celestes, meditando em dieta vegetariana no meio dos espiritualistas, em clima de paz e serenidade absolutos. De perto, o buraco é um pouco mais embaixo.
A despeito de proteger a vida animal com ênfase, eu tenho visto muito espiritualista bancando o “bicho” (no sentido ruim da palavra mesmo – de bestialidade). Se por um lado defendem valores bacanas como a proteção da vida animal, a meditação, o poder do eu, por outro, a vida humana do sujeito logo ao lado, a oração sincera e atuante pelo amigo que precisa e o PODER DO NÓS parecem não ganhar o mesmo destaque na pauta de prioridades.
Daí que, quando o EU fica mais importante do que o NÓS a coisa fica esquisita. Porque entra a MINHA MEDIUNIDADE, a MINHA VISÃO, a MINHA PERCEPÇÃO, o MEU JEITO, o MEU PROCESSO EVOLUTIVO que descem goela abaixo de quem quiser estar comigo, e o MOVIMENTO, como corpo vivo, fica estrebuchando qual doente em convulsão. O problema é que ninguém evolui sozinho. Evolução prescinde experiência e relacionamento social. Vida em comunidade. É no outro que eu vejo deflagradas as minhas limitações. A “espiritualidade do EU” isolada tem um lado perigoso porque nos aliena de situações onde os nossos limites seriam expostos fazendo emergir as verdadeiras oportunidades da evolução.
Daí que a doutrina mal pregada desse individualismo pseudo-evolutivo cria uma geração de espiritualistas mimados e birrentos, que não expressam a verdadeira expansão de consciência. Sim, porque fraternidade, integração, comunhão e unidade são frutos da consciência expandida. Quanto mais se progride na montanha do conhecimento, mais amplos se tornam os nossos horizontes, de forma que as pequenas pedras no caminho perdem a sua importância diante da grandeza do destino para o qual essa jornada evolutiva nos leva. A Expansão de Consciência está além das coisas que nos dividem, para priorizar o que de fato nos une.
Enfim, o AMA AO PRÓXIMO COMO A TI MESMO precisa voltar a nossa pauta. Não adianta entrar no roteiro espiritualista e não deixar que ele afete a forma como nós tomamos as nossas atitudes. Cada um age de acordo com o tamanho de sua própria consciência. Muito mais do que os jargões espiritualistas enferrujados e para muito além das dietas, das meditações e dos estudos (que são muito importantes também), que seja o AMOR o fundamento das nossas atitudes, e que elas digam ao mundo quem de fato nós somos.
Namastê (sem treta)!
Abraço grande! Sempre avanti!
Che questo è lá cosa piú importante!