“Sem dúvida, o ressurgimento do culto à Deusa em geral nos últimos anos teve uma influência dramática: as mulheres ocidentais, que havia muito tinham seu acesso ao aspecto feminino da Deidade negado, reencontraram suas vozes e a si próprias na Deusa.” (Cunningham, 2003, pág. 82)
São poucas as pessoas que não conhecem algo sobre as histórias do período da Inquisição na humanidade, por filmes ou livros. Quando mencionamos essa palavra, o que vem em nossa mente, na maioria das vezes, são imagens de mulheres na fogueira. Historicamente falando, o Tribunal Inquisitorial teve vários tipos de perseguições e ampliações contra a heresia, bruxaria e religiões no período renascentista com a Reforma Protestante, etc, que não é o foco aqui.
A caça às bruxas é um fato histórico, iniciado pela entidade da Igreja Católica, que matou milhares de pessoas, em sua maioria mulheres por séculos, principalmente na Europa, e apenas sendo amenizado no final do século XVIII com a ascensão do Iluminismo.
Mas a maioria das mulheres não eram necessariamente bruxas, conforme o termo a elas colocado. Muitas eram pessoas vulneráveis que não tinham a proteção de algum homem, como viúvas, com necessidades especiais e até mesmo as que recusavam se casar, também foram condenadas. E explicando aqui o “não necessariamente bruxas”, quer dizer que elas eram chamadas assim e acusadas de pacto com o diabo, simplesmente porque eram capazes de fazer coisas que os homens não compreendiam ou não aceitavam, como parteiras, curandeiras que tinham conhecimentos medicinais com as ervas, benzedeiras…
O principal motivo de eu abordar este assunto do final da Era Medieval e Início do Renascimento, é que no final das contas, as pessoas sempre tiveram medo do poder e da força das mulheres, e não falo aqui apenas no sentido mágico. O patriarcado foi implacável para calar, diminuir e fazer com que as mulheres fossem submissas, inferiores e dependentes.
Joana D’arc, que foi queimada na fogueira aos 19 anos no século XV, acusada de ser bruxa, também é um grande exemplo de como a sociedade sempre foi capaz de eliminar mulheres que tomassem a frente com sua sabedoria, força e que atuavam ativamente em suas comunidades.
Por isso, a bruxaria, ou melhor dizendo, o culto à natureza, com o resgate do sagrado feminino e do aspecto feminino da divindade, foi e é tão importante para o empoderamento da mulher. Reconhecer em si, a liberdade, o caminho de ser quem você é independente do estereótipo e padrão de feminilidade que a sociedade nos impôs, é libertador.
Bruxas são mulheres livres, inteligentes e pensam muito à frente de seu tempo, por isso, muitos adeptos a Arte, seja como religião, seja como filosofia de vida, tem atraído cada vez mais mulheres que não se identificam com sistemas religiosos, que ainda trazem um espaço muito limitado para a atuação feminina. Atrai também aquelas que reconhecem todo o seu potencial através da cura deixada como legado por seus ancestrais.
Uma sugestão de livro muito bom para entender um pouco mais sobre um dos vieses na visão historiográfica e sociológica deste assunto é o Calibã e a Bruxa – Mulheres, corpo e acumulação primitiva, da Silvia Federici.
Lembre-se – cada ponto de vista é a vista de um ponto quando entendemos que as diferenças de opiniões podem gerar encontros e não confrontos.
Com amor,
Juliana Rissardi
Bruxilds
Respostas de 4
Que texto lindo Ju! Exatamente, as mulheres são portais de vida, detentoras de grande poder, temidas desde sempre e até hoje. Que o sagrado feminino seja resgatado a partir de texto assim! Gratidão!!!
Fabi, querida. Gratidão pelo comentário! Que possamos juntas plantar sementes e trazer para nossas vidas essa cura! Grande abraço! <3
tamu junto !!!
No fundo , o homem sempre sentiu receio do poder da mulher daí, a necessidade, ainda vigente em algumas sociedades , de cercear esse empoderamento, de calar a voz , de limitar os passos como se pudessem aprisionar as mentes femininas das que reconhecem em si o Espírito Sagrado da Deusa.